Não pretendo escrever um post moralista, muito menos saudosista e adepto do "antigamente-é-que-era-bom-havia-respeito-e-vergonha-na-cara".
A verdade é que tenho constatado uma cada vez maior indiferença por um valor que, para mim, é fundamental. Trata-se da lealdade. Vejo com bons olhos grande parte das mudanças que a nossa sociedade tem evidenciado: a liberdade sexual, o maior respeito pela mulher, etc., contudo não consigo entender o aumento exponencial daquilo que os nossos avôs chamariam de "falta de vergonha na cara (ou na fuça, focinho, tromba, trombil, whatever)".
Senão vejamos uma situação concreta: imaginemos uma miúda que namore (ou qualquer uma das variantes a que a sociedade moderna nos habituou: dê umas trancadas, ande nos curtes, troque uns fluídos, ande a comer, tenha uma amizade colorida....) com um rapaz. Essa mesma rapariga tem uma grande amiga, pois é! Pois que, com a convivência mútua a que a amiga e o rapaz estão sujeitos por via da namorada, acabam por se apaixonar.
Aqui não vou discorrer sobre os vários graus de nojice que podem acontecer em seguida (podem ser sinceros e contar logo à pobre coitada ou então andar a enganá-la num triângulo amoroso digno de novela da TVI), pois isso é-me relativamente indiferente. Trata-se sempre de nojice, pouca vergonha, imundice, porcaria. Ser porco pode ter muitos níveis que vão desde o simples porco até ao muitíssimo porco. Mas é sempre um porco.
Para mim, esta "amiga" assim que sentia alguma coisa tinha de tentar negar esse sentimento e tentar afastar-se. Não me venham com a conversa de que "é impossível controlar...foi inevitável... tentámos fazer tudo para que isto não acontecesse" porque todos somos adultos e sabemos que isso é a maior treta jamais inventada. Somos responsáveis pelo que sentimos sim! E pelo que fazemos ainda mais.
O pior é que toda a gente acha isto tudo muito normal. Se calhar a amiga enganada ainda devia ser madrinha do casamento do casal suíno. Afinal conheceram-se através dela.
Na minha adolescência era comum utilizarmos,volta e meia, as expressões: "metem-se com os meus amigos, metem-se comigo", "se insultam um familiar meu é como se me insultassem a mim". E toda a gente concordava. Era por demais normal sentir as dores dos outros como se das nossas se tratasse. Um namorado de uma amiga minha traía-a com a loira burra da turma, eu era mulher para deixar de lhe falar e, caso ele sequer tentasse dirigir-me um "bom dia", afinfar-lhe com uma resposta que o deixasse "a pão e laranja".
A maior parte das pessoas não é assim. Somos todos amiguinhos e se levarmos facadinhas não faz mal porque não foi por mal. Somos todos atrasadinhos e não respondemos pelo que fazemos e perdoamos tudo. "Eu não deixo de lhe falar, o que ele fez foi à Maria Joaquina não foi a mim". Por isso posso andar toda "sorrisinhos" para ele porque ainda me pode vir a ser útil no futuro. Afinal, não convém "fechar portas" que é outra expressão que adoro.
Eu, leal, me confesso. Não dirijo a palavra a alguns dos meus ex-namorados (pelo menos aos que foram de raça suína ou canina...). Não sorrio para ex-namorados de amigas minhas (que pertençam às mesmas raças). E sim, fecho portas. Há portas que nunca deviam ter sido abertas, mas depois de se ver a podridão que por lá impera, mais vale fechá-las de novo. E para sempre. Considero que isto me torna uma pessoa recta, de fibra, de raça.
Há que saber perdoar mas há que ter a noção que nem tudo é perdoável.