sábado, 12 de setembro de 2009

Doces, bolachas, beijinhos e elogios

Há uma sensação que conheço quase desde sempre. É talvez aquela que sinto mais vezes, que conheço melhor. Chamo-lhe a sensação "todos-ganham-doces-menos-eu".

Começou no infantário (ou creche...que eu não entendo nada desses preciosismos). Eu fui para lá com 2 anos e meio. Na altura detestava comer (já sei que vou ter a caixa de comentários cheia de "quem te viu e quem te vê"), mas é verdade. A hora da refeição era para mim uma tortura. Normalmente, toda a gente comia e eu ficava desgostosa ainda sentada, a olhar para o prato de comida já fria e a pensar que não me apetecia mesmo nada comer. Os outros meninos iam brincar e eu ficava de castigo, não sem antes me chamarem de "pastelona" (que era a alcunha carinhosamente atribuída a quem não comia).

A cozinheira do colégio era muito minha amiga. Ia-me requentar a comida e tinha muita pena de mim. Quando educadoras viravam costas, ela por vezes, deitava a minha comida fora para me deixar ir para junto dos outros meninos e dizia-lhes que eu já tinha comido. Era minha vizinha e também a minha maior aliada. Tinha a secreta conivência da minha mãe, que sabia que eu detestava comer mas não queria desautorizar as educadoras. Nesta altura, a minha mãe entupia-me de vitaminas e coisas para estimular o apetite e nada resultava.

O castigo mais frequente que as educadoras me brindavam por causa de eu ser "pastelona" era não me darem bolacha ou rebuçado durante a tarde. Os outros meninos ofereciam-me metade da sua bolacha e quando eram rebuçados tinha algumas amigas que diziam que me davam o delas. As educadoras não deixavam. Que eu estava de castigo, portanto nada de bolacha ou rebuçados. Outras vezes mandavam-me para a sala dos mais pequeninos (conhecida como a "sala dos bebés") por causa dos meus dilemas com a comida.

Eu esforçava-me por ser muito bem comportadinha. Era das mais inteligentes da sala e raramente fazia asneiras. Sentia muita inveja dos meninos que tinham fome e além de comerem tudo ainda repetiam (quem diria...).

Contudo, aceitava esses castigos e não refilava. O que detestava mesmo era que me obrigassem a comer. Como daquela vez em que a minha educadora, já irritada, me enfiou uma garfada tão grande de omelete (que ainda hoje detesto) na boca que eu até custava a dar a volta para mastigar.

Hoje recordo esses castigos com algum humor. Porque continuam a acontecer. Mas agora a minha "educadora" é a vida. E os "doces" que toda a gente ganha menos eu já não são rebuçados nem bolachas.

Continuo a conformar-me por todas as meninas da minha idade terem coisas que não tenho. Provavelmente nunca terei. Só não sei onde ando a falhar (é que eu agora até como mais do que devia). Todas ganham bem, todas têm namorados que as adoram apesar dos seus defeitos. Todas são lindas e bem arranjadas. Todas andam a casar. Todas têm montes de dinheiro para comprar tudo o que querem.
Todas, mas é que todas são felizes menos eu.

Pois que o conformismo acabou! Quero o meu rebuçado e quero a minha bolacha! E não aceito que ninguém me venha oferecer metade da sua bolacha por comiseração.





5 comentários:

Rosa Cueca disse...

a amizade acaba por ser uma metade de bolacha que devemos cultivar.

há outros doces muito importantes, mas a atitude de não deixar passar os bombons à frente é o início de tudo :)

Girl disse...

Sim, amizade sempre. Mas há outras coisas que também fazem falta. E nós temos o direito de as ter.

Os bomboms? Humm...bela metáfora. eheheh

Beijinhos

Celinha 007 =) disse...

Fantástico... Consegui ler-te e rever-me! Sabes que mais... Eu tb sou um pouquinho dessa rapariga a quem lhe vão roubando alguns doces.. E já chega mm de comodismo. O doce que vier ou é total ou não é! E eu vou decidir se o quero... :D

Um beijo! Gostei e vou continuar a passar :D Muah*

Anónimo disse...

Olá;)
Apesar de já te ter dito ontem por sms, venho hoje aqui deixar um coment.
Amiga, eu também não sou feliz.
Por isso, cada dia tenho menos vontade de acordar.
Quanto mais se deseja algo, mais tarda em chegar:(
Beijinho, Cláudia

Sávio Fernandes disse...

YOU GO, GIRL!
Adorei esse final. (: