quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Qual o valor que devemos dar à lealdade?

Não pretendo escrever um post moralista, muito menos saudosista e adepto do "antigamente-é-que-era-bom-havia-respeito-e-vergonha-na-cara".

A verdade é que tenho constatado uma cada vez maior indiferença por um valor que, para mim, é fundamental. Trata-se da lealdade. Vejo com bons olhos grande parte das mudanças que a nossa sociedade tem evidenciado: a liberdade sexual, o maior respeito pela mulher, etc., contudo não consigo entender o aumento exponencial daquilo que os nossos avôs chamariam de "falta de vergonha na cara (ou na fuça, focinho, tromba, trombil, whatever)".

Senão vejamos uma situação concreta: imaginemos uma miúda que namore (ou qualquer uma das variantes a que a sociedade moderna nos habituou: dê umas trancadas, ande nos curtes, troque uns fluídos, ande a comer, tenha uma amizade colorida....) com um rapaz. Essa mesma rapariga tem uma grande amiga, pois é! Pois que, com a convivência mútua a que a amiga e o rapaz estão sujeitos por via da namorada, acabam por se apaixonar.

Aqui não vou discorrer sobre os vários graus de nojice que podem acontecer em seguida (podem ser sinceros e contar logo à pobre coitada ou então andar a enganá-la num triângulo amoroso digno de novela da TVI), pois isso é-me relativamente indiferente. Trata-se sempre de nojice, pouca vergonha, imundice, porcaria. Ser porco pode ter muitos níveis que vão desde o simples porco até ao muitíssimo porco. Mas é sempre um porco.

Para mim, esta "amiga" assim que sentia alguma coisa tinha de tentar negar esse sentimento e tentar afastar-se. Não me venham com a conversa de que "é impossível controlar...foi inevitável... tentámos fazer tudo para que isto não acontecesse" porque todos somos adultos e sabemos que isso é a maior treta jamais inventada. Somos responsáveis pelo que sentimos sim! E pelo que fazemos ainda mais.

O pior é que toda a gente acha isto tudo muito normal. Se calhar a amiga enganada ainda devia ser madrinha do casamento do casal suíno. Afinal conheceram-se através dela.

Na minha adolescência era comum utilizarmos,volta e meia, as expressões: "metem-se com os meus amigos, metem-se comigo", "se insultam um familiar meu é como se me insultassem a mim". E toda a gente concordava. Era por demais normal sentir as dores dos outros como se das nossas se tratasse. Um namorado de uma amiga minha traía-a com a loira burra da turma, eu era mulher para deixar de lhe falar e, caso ele sequer tentasse dirigir-me um "bom dia", afinfar-lhe com uma resposta que o deixasse "a pão e laranja".

A maior parte das pessoas não é assim. Somos todos amiguinhos e se levarmos facadinhas não faz mal porque não foi por mal. Somos todos atrasadinhos e não respondemos pelo que fazemos e perdoamos tudo. "Eu não deixo de lhe falar, o que ele fez foi à Maria Joaquina não foi a mim". Por isso posso andar toda "sorrisinhos" para ele porque ainda me pode vir a ser útil no futuro. Afinal, não convém "fechar portas" que é outra expressão que adoro.

Eu, leal, me confesso. Não dirijo a palavra a alguns dos meus ex-namorados (pelo menos aos que foram de raça suína ou canina...). Não sorrio para ex-namorados de amigas minhas (que pertençam às mesmas raças). E sim, fecho portas. Há portas que nunca deviam ter sido abertas, mas depois de se ver a podridão que por lá impera, mais vale fechá-las de novo. E para sempre. Considero que isto me torna uma pessoa recta, de fibra, de raça.

Há que saber perdoar mas há que ter a noção que nem tudo é perdoável.

5 comentários:

The Love Coach disse...

Viva Laranjinha :)

Este post tem pano para mangas. Que é como quem diz - tem muito que se lhe diga e é complicado opinar.

Porque a postura que apresentas deixa pouca margem de manobra. Das duas uma: ou se concorda contigo e - aos teus olhos - somos também uma pessoa recta, de fibra, de raça. Ou não concordamos e então ficaremos na gaveta dos caprinos, suinos e bovinos que tanto te incomodam.

Assim, esquivando ardilosamente de emitir uma opinião pessoal, deixo-te apenas com um pensamento para ruminar :)

Há sempre coisas que nos magoam e que, portanto, condicionam a nossa vida e a nossa personalidade. Em geral, vamos construindo os nossos limites e barreiras em função daquilo que nos magoou no passado.

Como não queremos que volte a acontecer we draw the line there. E quem ultrapassa aquela linha faz parte das pessoas que putativamente nos magoariam, e - por precaução - decidimos não gostar delas logo a partida.

Isto é a desconstrucção consciente do processo inconsciente que se dá dentro de nós. Agora... desde a "Ética para um jovem" que eu percebi que o "bom" e o "mau", o "certo" e o "errado" não existem. Somos nós que os construímos. Aquilo que - no nosso referencial de valores - é terrível, para outra pessoa pode não ser nada de especial.

E esse referencial foi escolhido. Foi decidido internamente. Não é um caso de "eu sou assim". É "eu escolhi ser assim", ainda que essa escolha tenha sido inconsciente, fruto de medos e mágoas.

A "verdade" e a "rectidão" são sempre conceitos relativos a cada um e, normalmente, tentamos convencer os outros a aderir aos nossos valores - geralmente incutindo o medo da não aceitação, frisando o quanto seria terrível ser do grupo de pessoas que não concordam com a nossa ideia.

Isto é um mecanismo clássico do nosso ego, que se pode dividir em duas partes: defesa e reafirmação.

Tal como supracitado, a defesa ocorre porque todo este processo tem raiz no "algo me magoa, tenho que me proteger". A reafirmação é o processo pelo qual vamos espalhando a nossa defesa - e o nosso medo - pelos outros, para que as pessoas em nossa volta manifestem concordância e assim criar um "grupo seguro" que nos rodeia e dá a ilusão de que temos razão, de que estamos correctos, de que estamos um pouco "protegidos".

E é aqui que se dá aquele que é o busílis da ideia que te queria transmitir.

Temos duas grandezas interessantes: a razão e a felicidade.

Muitas vezes - se trabalhassemos dentro de nós, se fizéssemos por mudar o nosso mundo interior, se aprendessemos o que temos a aprender com certas experiências e dores e nos transmutássemos - poderíamos aprender com a vida e seguir em frente, para novas experiências, novos desafios, novas aprendizagens.

(continua)

The Love Coach disse...

...(continuação)

Mas como ficamos normalmente presos ali num certo conjunto de coisas em que "não vergamos", vamos vivendo as mesmas experiências, sofrendo as mesmas dores, levando porrada da mesma forma.

A vida, o desenvolvimento pessoal e mental (que - diria Scott Peck - é exactamente o mesmo que desenvolvimento espiritual), faz-se mudando o nosso referencial continuamente. É assim que crescemos, que evoluímos e que nos tornamos gradualmente menos escravos das nossas ideias e limitações - auto-impostas.

Porque é isso que um sentimento destes é. Uma limitação para a felicidade. Uma manifestação de Medo.

E o busílis (finalmente) é este:

Tantas e tantas vezes.. nós preferimos ter razão a ser Felizes.

Podemos ficar na merda, tristes, dilacerados, vítimas da nossa própria existência, amargos e vazios. Mas ao menos temos razão. Estamos certos e o mundo está errado. Pelo menos somos íntegros, isso ninguém nos pode tirar.

E atenção - não quero com isto dizer que não aprecio profundamente valores como a lealdade e a integridade. Nem que devemos viver vidas puramente hedonistas, cagando em qualquer moralidade e vivendo ao sabor das vontades e desejos. Nada disso... espero que o entendas. :)

Bom o post vai longo, deixo-te com uma frase de uma monja tibetana, que conheci - curiosamente - na quinta da troca (conheces?) ;)

"Quando andamos descalços e o mundo está cheio de pedras que nos ferem os pés, temos duas hipóteses: ou forramos todo o mundo a algodão para ficar fofinho, confortável e não nos magoar, ou calçamos uns sapatos"


Um abraço, Paz e Amor*


The Love Coach

Diana disse...

Olá minha amiga;)

Este teu post é um pc mordaz, entendo o q queres dizer, afinal ng gosta de se sentir traído e há tb traições q custam mais q outras.
É o caso qd somos enganadas por pessoas q considerávamos de confiança, como amigas, ou qd pessoas das quais nós mto gostamos são enganadas pela bicharada q referiste... LOL.
Entendo e concordo q certas situações são imperdoáveis aos nossos olhos, eu pp já me senti traída e n perdoei e tb já fui traída e perdoei, já me aconteceu de tudo.
Como bem sabes (e n vou entrar em detalhes) eu tb já traí, nc uma amiga claro,é um limite q nc transpus e assim escolhi nc fazer, mas tb posso considerar q nem sp fui a pessoa mais leal deste mundo e q de facto às vezes "as cenas acontecem",ou melhor, ás vezes o impulso leva a melhor, consciente ou inconscientemente.
Tento n julgar pq todos cometemos erros, é assim a natureza humana, mas concordo a cem por cento na questão da lealdade p c as nossas amigas, jamais poderia trair uma amiga minha, sinceramente n há bom naco q valha a pena perder uma amizade verdadeira.

Bjs e fica bem!a menina dos saltos vai almoçar!

P.S: Vê lá se mandas o diary q te pedi e vai lá ao blog comentar! Ah! E deves-nos uma saída pá! Íamos arrebentando c a porra da cidade! LOOOOOOOOOOOOOOOOL

Girl disse...

Que excelentes comentadores que eu tenho aqui!!!!

Coach: compreendi tudo o que escreveste. Concordo contigo mas aqui e ali ainda não consigo ter o desprendimento necessário para pensar assim.

Diana: Eu bem te conheço e tu és uma pessoa muito leal. Não te enquadras na suinagem (mas é que nem pouco mais ou menos).
Erros toda a gente comete. O resto é que não.


Beijinhos aos dois:)

Maria disse...

Concordo contigo.. Há coisas que não se esquecem assim, e uma das coisas que menos suporto é a mentira. Prefiro a verdade cruel do que uma mentira que nos faça estar bem..

beijinho.