terça-feira, 21 de abril de 2009

A Rapariga das Laranjas investiga...

Já houve, nesta minha curta existência, umas quantas vezes em que me senti ignorante (para não dizer burra) mas assim em larga escala. Até há um ano/ano e meio atrás, isto era pouco frequente. Sempre que acontecia, lá ia eu investigar afincadamente o assunto sobre o qual não estava elucidada e plim...rapidamente virava sabichona. (há quem fale dos novos-ricos, eu inventei o conceito dos novos-sabichões)

Quis Deus nosso Senhor mais Maria Auxiliadora, que eu fosse arranjar um namorado que me faz sentir assim bastante frequentemente. E pior, fá-lo em questões sobre as quais é extremamente difícil ir procurar informação. Mas eu, qual Poirot no Expresso do Oriente, vou sempre tentando. Aqui ficam dois exemplos:

1) Estávamos nós a conversar (ainda namorávamos há muito pouco tempo), eis senão quando, sem qualquer aviso prévio, sou confrontada com uma expressão que eu desconhecia totalmente. Como é sabido, gaja que é gaja não admite os seus pontos fracos, "fechei-me em copas" (afinal eu tinha entendido tudinho pelo sentido da frase) e logo que possível...pimba...pesquisar no google. A bendita expressão/palavra/coisa-que-o-valha é "pandan". Ora pois. Usar uns sapatos pretos e uma mala preta é estar a fazer "pandan". Pois eu, burrinha, nunca tinha lido, sequer ouvido, semelhante vocábulo. Pelos vistos, os ignorantes, apenas conhecem o velhinho "estar a condizer" ou a "fazer conjunto". Nada de pandan's.
E o pior de tudo, é que eu achei que a expressão se escrevia "pendant", como aprendi nas aulas de francês (se bem que significava "durante" na última vez que verifiquei) o que se revelou um grande obstáculo à minha pesquisa. Pois é, meus amigos, após muito averiguar, percebi que se escreve, de facto, "pandan", contudo, continuo desconhecedora da sua origem. O que não faz "pandan" com a minha personalidade. Não faz não.

2) Pois que o rapaz foi jantar a casa de um casal amigo, daqueles "supê-chiques". Terminado o jantar, resolveu contar-me o que tinha jantado. Escusado será dizer, que a conversa perdeu a piada, para mim, logo quando falou das entradas. Parece que lhe foram servidas (aquilo que na altura me soou como) "brochetas". Evidentemente que já nem ouvi a descrição do resto da refeição, a minha cabeça ficou a remoer nas "brochetas" e que raio de entrada seriam. Aquilo pareceu-me mesmo muito estranho. Cá no meu Alentejo, essas coisas não são para comer (ok, mesmo que sejam, terá de ser como sobremesa e nunca como entrada). Confesso que nesta situação tive medo de pesquisar no google. Acho que não teria um resultado lá muito decente. Fui então aos livros de receitas. A minha tia tem centenas, motivo pelo qual rumei a sua casa, e lá passámos, as duas, uma bela tarde de Sábado, na senda das famigeradas "brochetas". Nada. Aqui tive mesmo de perder a vergonha e cometer o pecado mortal das namoradas: admitir a minha ignorância total no assunto.
Diz que as "bruschettas" (assim se escreve) são... (aqui vou fazer uma pausa, não vá algum dos 2 leitores deste blog desconhecer a expressão e, se assim for, vou fazer um pouco mais de suspense para dar um efeito semelhante ao que eu senti)...

...pois diz que sim, que as "bruschettas" são...

...são...

...são pão, meus amigos... sim, pão....pãozinho torrado no forno com queijo e tomate por cima. Parece que lá por terras da capital, há restaurantes só com isso.

A partir daí não mais falei em "pão". Abandonei estas 3 letrinhas, uma delas acentuada com um til (que demodè) e passei a chamar "bruschetta".
Quando vou à padaria, o velhote padeiro coça a cabeça e responde "-Não sei o que é isso menina".
Eu lá acabo por explicar que é pão. Só temos de o colocar no forno com um fiozinho de azeite, um pouco de queijo e tomate...voilà...sai uma "bruschetta".
O senhor responde que só vende mesmo o pão normal e a vida não está para inovar nos negócios. Tomara ele manter a padaria aberta, conforme está, já é muito bom, não deve nada a ninguém, e com esta crise nunca se sabe.
Eu lá atiro com uma última tentativa desesperada:
"-Mas se não quiser, também pode vender só o pão normal, mas chame-lhe "bruschetta", é muito mais chique".
O senhor diz que não. Não gosta dessas modernices, afinal vende pão há muitos anos, que é lá isso de vender "brochetas", além do mais, a sua mulher não ia gostar de certeza.
Mas eu lá vou tentando sensibilizá-lo para a importância do uso do estrangeirismo. Afinal, a língua portuguesa há muito que não figura nas tendências da moda.



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